Total de visualizações de página

terça-feira, dezembro 27

Eu preciso falar



Eu "preciso" falar.
Desculpe-me se o assunto vai soar triste. Alguns poderão dizer que é mórbido (sem trocadilho). Mas você verá, ao final, que é exatamente o contrário.
Quero falar sobre a morte da minha mãe.
Eu já passei dos 50, e agora me sinto preparada para isso.
A história, até certo ponto, é semelhante a muitas outras: Mulher, 59 anos, fumante por pelo menos 30, que consumia, nos últimos tempos, uns três maços de cigarro por dia.
Diagnóstico (cruel): Câncer de pulmão. Cirurgia descartada.
Prognóstico (mais cruel ainda): Sete meses de vida, no máximo, com ou sem tratamento.
No que essa história difere das demais, pelo menos para mim?
Por se tratar da minha mãe, uma mulher bela, simples, de poucas palavras e riso raro, que não fazia mal a ninguém, exceto a ela mesma.
Uma mulher que gostava de batom e esmalte vermelhos. Que adorava ler Agatha Christie e Janet Dailey. E de assistir TV.
Uma mulher que não conseguiu ser feliz no casamento e, então, separou. E nunca mais se juntou.
Que sofreu nesta vida a “pior das piores” dores que uma mãe pode sofrer: a morte de duas filhas, ainda pequenas.
Na noite em que minha mãe morreu, eu estava no hospital.
Permaneci ao lado dela, fazendo carinhos suaves naquele corpo que praticamente levitava a cada espasmo de dor. Uma dor que, de tão intensa e lancinante, a dose de morfina aplicada, ainda que alta, não conseguia debelar.
Perto do fim, eu rezei, e chorei.
E declarei a ela o meu imenso e eterno amor.
Depois a liberei, pedindo a DEUS que a levasse para junto Dele.
Ela não merecia continuar sofrendo. Era desumano.
Nos últimos instantes de vida, a dor foi cessando, o corpo foi se aquietando e, com olhos que já haviam perdido totalmente seu brilho, ela olhou para mim pela última vez ... e expirou ... deixando pender sua cabeça para o lado... para sempre.
Esse foi o momento mais sublime de toda a minha vida, e agradeço a Deus por de tê-lo vivido.
Dona Leila, em meu coração você sempre esteve, ainda está, e estará comigo por toda eternidade.

Da série “Passei dos 50”, por Deborah Johansen.