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terça-feira, dezembro 27

Parecida com meu pai







Sempre pensei que eu fosse muito diferente do meu pai.
Agora que passei dos 50, vejo o quanto estou ficando parecida com ele.
Atualmente, durmo tarde, muito tarde. Tem vezes que passo a madrugada toda acordada, lendo, escrevendo, assistindo TV, ou conectada na Internet . A única diferença é que ele não tinha Internet.
Adoro um bom papo. Melhor ainda se for sobre assuntos religiosos ou esotéricos, e que tratem da alma, do âmago do ser.
E mesmo sem entender muito de filosofia clássica, assim como ele eu também dou as minhas “filosofadas”.
Sou de poucos amigos. Mas tenho alguns, do peito, que na hora do “pega prá capar” já chegam dando voadora no meu adversário, prá só depois perguntar qual era o problema.
Não concordo com alguém só para agradá-lo. Mesmo que tentasse, não conseguiria.
Assim como meu pai, não levo desaforo prá casa, até porque não aprecio “sapos” (eles nunca passam muito facilmente pela garganta).
Ele tinha por hábito sublinhar passagens interessantes e fazer comentários nas margens das páginas dos livros que lia. Ainda bem, pois é muito legal ler e reler esses pequenos escritos que ele deixou. É como se estivesse falando comigo. Por isso, não me empreste os seus livros, pois é quase certo que irei riscá-los.
E por último, preciso falar de ANGÚSTIA.
Aquele aperto na garganta, aquela sensação ruim acompanhada de uma forte dor no meio do peito, que chega à noite e não me deixa dormir.
Ele falava que isso existia.
Eu, então, não acreditava.
Hoje acredito.
Puxa... como estou ficando parecida com o meu pai...
Queria poder dizer isso a ele.
E também dizer que, apesar de tudo, eu o amei muito.

Da série “Passei dos 50”, por Deborah Johansen.