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quarta-feira, fevereiro 22

O sabor do CARNAVAL




Qual o gosto que fica,
na boca da mulher solteira
quando termina o Carnaval
e acaba a brincadeira
Doce, amargo ou azedo?
Depende do que provou.
Se foi paixão que rolou,
um gosto doce ficou.
Se nunhum romance surgiu,
é o amargo que sentiu.

E se um grande amor pintou,
lá no meio da avenida,
mas ele bebeu, exagerou,
em tudo extrapolou,
eu imagino, querida,
que um gosto azedo ficou.

Mas não precisa esperar
pelo próximo Carnaval.
Talvez amanhã tenha sorte,
desilusão não é morte,
ainda resta a esperança,
de encontrar no dia a dia,
alguém que te traga a alegria
de um grande amor, afinal.

Eu, que passei dos 50,
fui uma privilegiada,
pois no fim daquela festa,
um gosto tão doce ficou,
que nunca provei mais nada.

Claro que em certos dias
a coisa é azeda e amarga,
mas depois volta ao normal.
Pois acredite, minha amiga,
a vida não é só Carnaval.

Da série "Passei dos 50", por Deborah Johansen.

domingo, fevereiro 19

ASSUNTO DE PESO

 





Em uma única página do Jornal O SUL do dia 17 de fevereiro, encontrei essas três manchetes:
"DEMISSÃO POR JUSTA CAUSA DE GORDINHA VAI PARAR NA JUSTIÇA" - uma funcionária do Vigilantes do Peso passou de 74 para 93,8 quilos durante os 15 anos em que trabalhou lá.
"MULHER PERDE PESO APÓS FICAR ENTALADA" - foi na banheira de sua casa, quando pesava 145 quilos; quatro anos depois, ela comemora seu novo corpo, de 58 quilos.
"O HOMEM MAIS GORDO DO MUNDO" - um britânico, de 42 anos e 368 quilos, que come 8 cachorros-quentes apenas no café da manhã, é o novo detentor desse título, após desbancar o mexicano que chegou a pesar 600 quilos, mas que agora tem menos de 240.
Três "notícias de peso", que me deixaram com a "consciência pesada".
Fiquei, então, "sopesando" o assunto.
Toda mulher diz que precisa perder 5 quilos, independente do peso que tenha.
Mas eu nunca digo isso.
Não preciso perder 5 quilos.
Preciso perder 15!
Em novembro de 2010, fiquei 10 dias num spa em Itapema/SC.
Numa rotina diária que envolvia duas caminhadas de 1 hora, 1 aula de hidroginástica, 1 aula de aeróbica, muitas massagens e tratamentos, e o consumo de apenas 780 calorias (o que é pouco mais que alface, pepino e água), consegui perder míseros 5 quilinhos.
E, pasmem, do grupo que estava lá naqueles dias fui a campeã em perda de peso. Ganhei até uma faixa!
Seis meses depois, aqueles 5 quilos já estavam de volta, pelo corpo todo, mas com uma sinistra preferência pela área da cintura.
Desolação total!
Nunca tive grandes atritos com a balança na minha vida... até a menopausa.
Desde então, nossa relação degringolou.
"Piso" nela todo o dia pela manhã. Ela, desaforada, só me dá más notícias.
Mas para 2012, estou cheia de propósitos.
Ei, você viu como é? Nem as palavras colaboram.
"Cheia de propósitos"... Devia dizer "fininha de propósitos".
Havia até cogitado entrar no Vigilantes do Peso.
Mas agora, sabendo que a funcionária foi demitida por engordar 20 quilos em 15 anos...
Ora, isso aí eu consigo sozinha, e sem qualquer sacrifício!
Quanto ao caso da mulher "entalada"... bem, esse risco, pelo menos, eu não corro.
Mas é só porque não tenho uma banheira!
E se passei dos 50, mas continuo gostando de cachorro-quente feito criança, tenho que "tomar" uma providência, e com a máxima urgência:
- Então, sai aí um cafezinho... com adoçante?

Da série "Passei dos 50", por Deborah Johansen.
 

sábado, fevereiro 18

CARNAVAL



Tanto riso, oh quanta alegria
(E tantas lágrimas derramadas)
Mais de mil palhaços no salão
(Centenas de pessoas morrendo.)
Arlequim está chorando pelo amor da Colombina
(Pais, filhos e irmãos chorando a perda de seus amores,)
No meio da multidão
(Nas estradas superlotadas.)

Foi bom te ver outra vez
(Vai ser tão bom te rever!)
Tá fazendo um ano
(Faz tão poucos dias,)
Foi no carnaval que passou
(Te vi na última sexta.)
Eu sou aquele Pierrô
(Sou aquela que te ama,)
Que te abraçou
(Que te abraça,)
E te beijou, meu amor
(Que te beija, meu amor.)

A mesma máscara negra
(A mesma cara de felicidade,)
Que esconde o teu rosto
(Que estampavas na tua ida,)
Eu quero matar a saudade
(E da qual já tenho saudade,)
Vou beijar-te agora
(Vou beijar na tua volta,)
Não me leve a mal
(Quando chegar ao final)
Hoje é carnaval
O "feriadão de carnaval".)

...\0/...(0)...\0/...(0)...

É "na tela da TV"
que curto meu carnaval.
Já não dá mais pra brincar
"no meio desse povo",
porque passei dos 50,
minha perna não aguenta,
e a coluna... se arrebenta!

Mas se "a festa é na avenida",
só fico "de bem com a vida",
na próxima quarta-feira,
com toda a galera de volta.

Daí, então, danço e canto
- deixo o samba me levar -
que "eu tô que tô legal",
porque... ufa... graças a Deus,
passamos mais um carnaval!

Da série "Passei dos 50", por Deborah Johansen.

quarta-feira, fevereiro 15

Era um menino lindo...




Era um menino lindo,
Que naquele pátio entrou.
Queria apenas brincar,
Mas o cão feroz o encontrou.
Não deu tempo para nada.
E nada, nem ninguém, o salvou.

Era um menino bonito,
Que naquele pátio entrou.
Dele só se ouviu o grito.
O cão feroz ninguém segurou.
De tão pequeno, tão frágil,
Seu sangue no chão derramou.

Era um menino doce,
Que naquele pátio entrou.
Tinha toda a vida pela frente.
Mas o cão feroz o encontrou.
Agora ele foi embora.
Sua brincadeira, aqui, acabou.

Apenas um menino inocente,
Que naquele pátio entrou.
Eu não conhecia o menino,
Até que alguém me falou.

E se já passei dos 50,
Vi e vivi tanta coisa,
De nada isso me adianta,
Uma dor parecida voltou,
Assim como um nó na garganta.

Da série "Passei dos 50", por Deborah Johansen.


UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA



O menino queria apenas brincar. Mas o cão não entendeu.
De um lado, a inocência do menino. Do outro, a ferocidade do cão.
Morreu o menino. Sacrificado foi o cão.
Tragédia anunciada?
Sim, apenas mais uma.
E o que fica, de fato, ao fim e ao cabo de tudo?

Ao contrário do coração do menino, o da jovem mãe ainda bate no peito. Tem mais dois filhos pequenos para criar.
Mas ela nunca mais será a mesma.
Disso eu tenho certeza!

Minha mãe também perdeu sua filhinha numa tragédia.
Uma tragédia que os homens poderiam ter previsto, e principalmente evitado.
Uma TRAGÉDIA ANUNCIADA.

Aquela que ninguém quer, ninguém deseja, ninguém espera, mas que acontece.
É quando a negligência dos "responsáveis" se faz presente. Quando eles não tomam os devidos cuidados. Quando não providenciam o mais básico, o essencial.
Como aconteceu no caso do cão feroz, uma "mistura de pitbull com rottweiler".

Ora, um cão é um cão. Não raciocina. Age por instinto. Pode parecer manso, e agir como tal, até o dia em que o gene da ferocidade das raças combinadas se manifesta.
Ninguém pode "prever" esse dia. Por isso, seu dono precisa se "precaver". Prever até o imprevisível. Assim como quem guarda um revólver em sua casa.

Minha mãe também tinha outros filhos. E foi por eles que continuou vivendo.
Mas ela nunca mais foi a mesma.
Viveu apenas pela metade, e com um sentimento eterno de culpa.
"Por que não fiz isso, por que não fiz aquilo..."
"Por que, meu Deus, por quê?"
Um martelar incessante, torturante, levado para a eternidade.
Mas a culpa não foi da minha mãe.
Ela só foi comprar o pão, e levou consigo sua filhinha. E o fez com todo o cuidado, com todo o zelo. Não podia, ela, prever o que era a-b-s-o-l-u-t-a-m-e-n-t-e imprevisível!

Assim como a culpa também não foi da mãe daquele menino. Ela estava trabalhando, e não tinha a opção de estar lá - onde gostaria de estar - junto do seu filhinho.

Eu já passei dos 50, mas jamais vou esquecer daquele dia, há quase 40 anos, em que minha mãe saiu à rua levando com ela sua menina de 1 aninho, que tinha o nome e a beleza de uma princesa - Grace.
Eu estava na escola, e fui chamada às pressas para casa. Quando cheguei, encontrei minha mãe já sozinha. Ferida no corpo e, pior do que isso, profunda e irremediavelmente dilacerada na alma.

Houve processos judiciais, que resultaram na absolvição penal do operário e na condenação civil dos poderosos. Houve, também, o posterior "sumiço" do processo de responsabilidade civil do cartório. O que impediu, pelo menos aqui na Terra, que se fizesse a "tal da Justiça". Mas essa, é uma outra história...

No caso do menino e do cão, de nada importa o que virá depois. Culpa ou dolo, condenação... ou não.
O que fica, de real, de concreto, é uma outra mãe dilacerada, que passa a viver somente pela metade.
Porque aquela sua "outra metade" - que queria apenas brincar - já não vive mais.

E a única coisa que pode trazer algum consolo ao coração dessa jovem mãe é pensar que o seu menino de 5 anos, que tinha o nome e a beleza de um rei - Gustavo - pode agora brincar em paz!


Da série "Passei dos 50", por Deborah Johansen.

Ao som de ENYA



Outro dia compartilhei alguns vídeos no Face. Um deles da irlandesa - e também cinquentona -Eithne Ní Bhraonáin, ou "Enya", como é mais conhecida.
Meu comentário na postagem foi o seguinte: "Para Ricardo, que gostava de Enya, mas amava Leila. Onde quer que vocês estejam agora...".
Algumas horas depois, viajei no tempo, e voltei a um dia muito específico, do qual jamais vou esquecer.
Tínhamos ido a Gramado visitar meu pai e sua segunda esposa, Gilda, por quem tenho uma gratidão eterna pelo cuidado que dedicou a ele até o fim.
Ele já estava muito doente, e sabia que, mais dia menos dia, o ar iria faltar.
Em virtude de um enfisema pulmonar crônico, muito severo - um presentinho do seu "Companheiro Maldito", também conhecido por "Cigarro" - ele dependia de uma máquina de oxigênio 24 horas por dia, e só levantava da cama para as necessidades mais básicas.
Meu pai sempre contava que começou a fumar muito cedo. Tanto que seu apelido era "Polaco Fumador".
Logo no início da visita, ele chamou ao seu quarto minha irmã Dilana e eu, para uma conversa em particular.
Senti que o pai estava diferente naquele dia. Um pouco mais triste, um pouco mais sério, mas, ao mesmo tempo, tranquilo.
Assim que ficamos a sós, ele começou a falar de morte, da sua própria morte, e dos procedimentos imediatamente seguintes a ela.
Primeira providência: ele queria ser cremado.
Já havia se informado sobre o assunto, e nos passou todos os detalhes.
Tentei encerrar aquela conversa mórbida. Mas ele insistiu.
Finalizada sua breve explanação, perguntei:
- Tá, e depois, o que fazer com as tuas cinzas? (só quem passou por uma situação dessas pode saber como me senti naquele momento, de modo que não vou nem tentar explicar).
Ele respondeu, com essas exatas palavras:
- Olha, não quero minhas cinzas aqui em Gramado. Odeio esta cidade fria e úmida, cheia de velhos caquéticos andando por aí! (meu pai detestava o frio, e dizia que aquela era a cidade com "mais velhos por metro quadrado do mundo!").
- Novo Hamburgo já não me diz muita coisa, pois meus pais já morreram há tanto tempo (meus avós estão enterrados lá, e imaginei que ele quisesse ficar junto deles).
- Porto Alegre, então, nem pensar! Nem sei como vocês conseguem viver naquela loucura! (ele nunca gostou de Porto Alegre).
Nesse ponto, ele parou de falar, e instalou-se um profundo silêncio naquele quarto.
Mesmo com a voz embargada, a ponto de chorar, consegui perguntar:
- Onde, então? Em Lajeado? (é onde está enterrada minha mãe, num daqueles túmulos duplos, de casal, um ao lado do outro).
E ele, prontamente, respondeu:
- Ah, isso me serve!
E foi só o que ele disse.
E era só o que precisávamos ouvir.
E, então, mudamos totalmente de assunto.
Passado mais algum tempo, meu pai pediu ao meu irmão Ricardo - que para mim sempre foi o "Mano" - que suas cinzas fossem levadas ao túmulo ao som de Enya.
Assim ele pediu.
E exatamente assim nós fizemos.
Depois da sua morte, das honras fúnebres prestadas em Gramado pelos familiares e amigos, e da cremação em São Leopoldo, cumprimos o prometido.
Foi uma homenagem muito simples.
Éramos somente seus 4 filhos, e mais ninguém.
Relembramos algumas histórias do "Velho Buk" - como nós o chamávamos - e até rimos de algumas delas, porque meu pai foi, realmente, uma figura!
E depois choramos.
Tudo isso ao som de Enya.
Além de cumprir sua última vontade, fizemos uma coisa que ele não havia pedido, mas que com certeza deve ter gostado.
Entre o túmulo da minha mãe e o dele, mandamos gravar a passagem bíblica que ele repetira um sem-número de vezes: "O que Deus uniu não o separe o homem." (Mc 10,9).
Meu pai afirmou até o último dia de sua vida que nunca deixou de amar Leila. Jamais se conformou com a separação.
Minha mãe, por sua vez, não ficou mais feliz depois dela.
Eu, que já passei dos 50, ainda nem superei a primeira separação deles.
O que dizer, então, da última, da derradeira, daquela que é definitiva?
E embora tenham se passado mais de 10 anos da morte do meu pai, toda vez que eu ouço Enya...

Da série "Passei dos 50", por Deborah Johansen.

sexta-feira, fevereiro 10

O SKATE e a BENGALA


Qual a diferença entre o skate e a bengala?
No skate, a queda é praticamente inevitável.
Com a bengala, a ideia é evitar a queda a todo o custo.
O que separa o uso de um e de outro é o TEMPO.
Do tempo de criança ao tempo da idade avançada.
E também o MEDO.
A criança encara o skate sem medo da queda.
Ela até pode cair, quebrar, mas o osso sara, reconstitui, volta ao normal.
Já a pessoa de idade avançada "morre de medo" da queda. Dependendo da gravidade, pode ser o seu fim.
Entre o skate e a bengala estou eu, que já passei dos 50.

Quando eu era criança, não existia skate, pelo menos que eu soubesse. Assim, fiquei protegida das quedas.
E quando a idade avançada chegar, igualmente estarei segura, pois além das antigas bengalas, existirá uma parafernália tão grande para me amparar - andador, cadeira de rodas, carrinho elétrico, esses que circulam nos corredores dos shoppings, e até máquina de voar, pois em 2012 estão lançando o "JetPack", uma mochila voadora que funciona com hélices que sopram o ar rápido o suficiente para tirar o piloto do chão, e que no voo de teste chegou a 1500 metros do solo.

Assim, de um jeito ou de outro, você vai me encontrar circulando nos shoppings da cidade, pelos cafés, cinemas e livrarias.
Porque a passagem do TEMPO é inevitável, assim como a queda no skate.
Mas o MEDO, esse eu vou evitar a todo o custo, nem que seja a bengaladas!

Da série "Passei dos 50", por Deborah Johansen

quarta-feira, fevereiro 8

FAR WEST ou Faroeste


Minha mãe adorava ler. Aprendi a gostar da leitura imitando ela e o meu pai, pois ambos tinham esse hábito. Os gêneros preferidos de cada um eram bem diferentes. Meu pai fazia suas incursões na filosofia, religião e esoterismo. Já minha mãe gostava de Agatha Christie e seus assassinatos misteriosos. Ela leu a obra completa da "Rainha do Crime", como também era chamada a escritora. E quase sempre adivinhava o criminoso antes mesmo de chegar ao final do livro.
Ela também apreciava romances, tanto os mais elaborados, como os da Janet Dailey e Barbara Cartland, quanto esses vendidos em banca de revista, do tipo Sabrina, Bianca e Júlia.
Outra grande paixão da minha mãe, pelo menos enquanto eu era criança, foram aqueles livrinhos de bolso de Bang-Bang, Far West ou Faroeste, como você preferir. Ela chegou a ter uma coleção deles ocupando praticamente toda a estante da sala lá de casa.
Eu achava muito estranho ela gostar desse gênero literário. Não era o que as mães das minhas amigas liam. Cheguei a sentir um pouco de vergonha dela por causa disso, coisa bem típica das crianças que, em certas idades, ficam observando e julgando seus pais por critérios que só elas entendem.
Minha mãe, literalmente, "viajava" com sua leitura, transportando-se para os desertos do Oeste Americano, onde batalhas sangrentas eram travadas pela posse das terras, tendo os colonizadores brancos e suas armas de fogo de um lado, e os índios com seus arcos e flechas do outro, tudo isso num contexto histórico em que a "honra" era mais importante do que as "leis".
Puxa, acabei de lembrar que nos anos 60 a calça jeans era chamada de "FAR-WEST". Isso porque em 1956 a Alpargatas lançou uma calça com esse nome, feita com um tecido azulão grosso, o BRIM CORINGA. Era o "jeans" brasileiro que existiu, aqui, muito antes do americano da marca LEVI'S. Nos anos 50, o uso da calça de brim era uma exclusividade dos homens. As mulheres só começaram a usá-la nos anos 60. É o que li na Internet.
Bem, mas voltando ao tiroteio.
Por que será que minha mãe gostava tanto das histórias de Faroeste?
Não cheguei a perguntar isso a ela.
Agora, não tenho mais como saber.

Eu já passei dos 50, e nunca li um livro desses.
Qualquer dia, vou fazer isso!
Quem sabe, assim, eu consiga descobrir esse "mistério" da Dona Leila, uma mulher que lia muito, mas falava tão pouco...

Da série "Passei dos 50", por Deborah Johansen.

terça-feira, fevereiro 7

ESTRADA VAZIA



Para onde ela vai,
Nessa estrada vazia?
Solitária, nada leva,
Parece que vai voltar.
Mas se muito tempo passar,
Não lembrará do caminho.
Vai se perder pelo mundo,
Procurando por carinho.
E eu, bem aqui, esperando,
Com meu amor tão profundo,
Dar um abraço apertado,
Dizer que me faz tanta falta,
E que só quero um pouquinho,
Do que foi buscar não sei onde.
Num outro mundo, talvez,
Numa outra dimensão,
Duas que foram tão cedo,
Sem sequer se despedirem.
E eu, aqui, a te pedir,
Um pouco do que sobrou.
É difícil, eu sei que é.
Uma dor assim profunda,
Que corta ao meio a pessoa,
Que mata, mas deixa viver,
Pra terminar de criar
Aqueles que aqui ficaram.
Até não mais aguentar,
E pegar de vez a estrada,
Que leva pro outro lado.
O lado das outras duas,
Que igualmente eram tuas,
Mas que não puderam ficar.
Vai em paz, eu compreendo.
Sei o quanto estás sofrendo,
E não vou te segurar.
E como passei dos 50,
De longe vou avistando
Aquela estrada vazia.
Devendo me preparar,
Pra viagem solitária,
Para a qual nada se leva,
Porque dela não se volta.
E o que fica é a alegria,
E a eterna lembrança de amar.

Para minha amada mãe Leila, para a outra Leila, também Christina, como eu, e para a Grace, tão linda quanto a princesa.

Da série "Passei dos 50", por Deborah Johansen.

segunda-feira, fevereiro 6

CRESCER


Quando eu era pequena,
Queria CRESCER depressa.
Olhava a mãe se arrumando,
Ficava tão encantada!
Unhas e boca pintada,
E eu, ao seu lado, sonhando...

Usava vestido bonito,
Sempre com anágua rendada.
E também saia rodada,
Com blusa decote em "V".
Meia de nylon, salto alto,
E no cabelo, laquê!

E quando ia na festa,
Maquiagem caprichada!
Perfume no pulso e pescoço,
Tudo simples, mas com gosto.
Ela ficava tão linda!
Para mim, como uma fada!

Mas não foi assim pra sempre.
Depois, o quadro mudou.
Raramente se arrumava.
E, então, com mais idade,
Só a maquiagem restou
Como "saldo" de sua vaidade.

E eu comecei a pensar,
Se era melhor ser adulta.
Talvez o bom mesmo seria,
Criança permanecer.
Mas, aí, não tem mais jeito,
O TEMPO não quer saber!

E mais dia, menos dia,
Você acorda pra ver,
Que ele de fato voou.
E eu que passei dos 50,
Agora tenho a certeza,
Que o melhor é NÃO CRESCER!

Da série "Passei dos 50", por Deborah Johansen.

SEM MAQUIAGEM EU NÃO SAIO!


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Cada mulher tem alguma coisa de que não abre mão quando se arruma para sair. Tem aquelas que valorizam a roupa, que deve ser de grife e a última tendência da moda. Outras, preferem marcar seu estilo com o sapato e a bolsa. Para mim, maquiagem e perfume são os itens indispensáveis. Não desço nem ao térreo do edifício para buscar uma tele se não estiver maquiada.
Não lembro da última vez que saí à rua sem maquiagem. Do perfume eu até abri mão algumas raras vezes. Mas da maquiagem, nunca! Admiro as mulheres que saem de "cara lavada". Eu, simplesmente, não consigo! Pode fazer o calor do cão que fizer, não adianta, só saio depois de passar uma demão de massa corrida, mesmo que seja para ela derreter antes de eu chegar à esquina!
E não é tanto pelas rugas porque, considerando a minha idade, até que ainda estou no lucro. É por causa das manchas! Aquelas marcas bandidas que ficaram de herança do sol em excesso e das espinhas da adolescência... e que voltaram com tudo na menopausa!
A propósito, outro dia lembrei de uma loucura que fiz lá pelos 16 anos. Li em algum lugar que Creolina "secava" as espinhas. Deve ter sido coisa de um daqueles almanaques distribuídos gratuitamente nos mercadinhos, com dicas e receitas mirabolantes!
Preciso fazer, aqui, um parêntese: sou do tempo em que as gurias usavam na praia do Pinhal, como bronzeador, uma mistura de Óleo Johnson e Iodo, num verdadeiro ato de insanidade! Lembro de uma prima, de pele muito branca, que foi parar no Pronto-Socorro com bolhas enormes na barriga por causa disso.
Outra coisa que a gente usava era uma mistura de Creme Nívea, Hipoglós e Arovit. Passávamos essa pasta gordurosa no rosto na esperança de conseguir uma pele mais bonita. Opção de quem não tinha dinheiro para comprar um bom creme - o meu caso, portanto.
Mas, voltando à história da Creolina. Todos sabem que se trata de uma substância bactericida, desinfetante, superforte, usada em limpezas pesadas, como de banheiros públicos, por exemplo. E eu, tentando "desinfetar" a pele, e secar minhas espinhas, apliquei-a PURA, em TODO O ROSTO! E deixei secando, secando... Logo de início, senti uma certa ardência. Mas sabe como é, todo o sacrifício seria válido para me livrar daquelas erupções asquerosas. Passado algum tempo, enxaguei meu rosto várias vezes. Só que a pele continuou ardendo... E da sensação de ardência, passou para a queimação...
Resultado: consegui uma baita queimadura de pele! Fiquei com a cara completamente vermelha, parecia uma índia! E durante vários dias tive que disfarçar aquela aparência bizarra com uma grossa camada de base líquida e pó compacto.
Passado o susto, e depois de uma escamação completa, eis que surge, de baixo da epiderme, uma pele novinha em folha! Um verdadeiro "peeling acidental".
ATENÇÃO: asneiras como essa não devem ser repetidas por ninguém!
Puxa, lá se vão mais de 35 anos... Que horror! Parece que foi ontem...
Enfim, voltando à questão do uso de maquiagem, e considerando que já passei dos 50, acredito que nunca vou conseguir sair sem colocar o indispensável: base, pó, blush, rímel, lápis, e baton, de preferência, vermelho.
E quando eu estiver com 99 anos, e você me encontrar perambulando pela rua de cara lavada, faça-me um grande favor:
- Pegue-me pela mão, leve-me pra casa, e CHAME UM MÉDICO, COM URGÊNCIA, que o caso deve ser grave!
 
Da série "Passei dos 50", por Deborah Johansen.

domingo, fevereiro 5

Os CHATOS DE PLANTÃO



Verão, feriadão, Capão...
Tudo é festa, então?
Nã, nã, ni, nã, NÃO!
Pelo menos no nosso condomínio, que tem a bagatela de 65 apartamentos, a coisa não é bem assim.
Alguns vizinhos estão lá para fazer um retiro espiritual, viver seu momento zen do ano, meditar profundamente sobre a vida... e encher o saco dos outros!
Estou muito p* da cara!
Tenho um filho de 21 anos. Já falei dele em outras postagens.
Gente, 21 anos é tudo de bom!
Quem não lembra dessa fase da vida com saudade?
As paixões, os amores, as festas, as farras, enfim, a alegria esfuziante da juventude!
Bom, pelo menos ao que parece, naquele Condomínio tem gente que não lembra mais dos seus 21 anos. Talvez passaram direto da infância para a idade adulta... Só pode ser isso!
Quem conhece meus filhos sabe que eles são pessoas educadas. Mas são jovens, e fazem coisas próprias de sua idade! Graças a Deus!
O de 21, que foi à praia na sexta, chamou uns amigos para um churrasco no sábado à noite, em pleno feriadão, a praia lotadíssima, bombando!
Eram somente 4 convidados - 3 amigos e a namorada de um deles. Com a TV ligada na transmissão do "Planeta", 2 deles no violão e o meu filho na percussão -- do meu balde de roupas -- fizeram uma zoeira até às 3h da madrugada.
Ele descumpriu a sagrada "Lei do Silêncio" do Condomínio? Sim, descumpriu!
Incomodou irremediavelmente os vizinhos? Sim, incomodou!
Mas isso aconteceu UMA ÚNICA VEZ NO ANO TODO!
Aliás, ele quase nunca vai a Capão, pois tem passado suas férias geralmente em Garopaba/SC, com os primos.
Ninguém foi capaz de bater na porta do apartamento e pedir à gurizada que desse uma maneirada! Podiam perfeitamente ter feito isso, pois meu filho, suficientemente educado para tanto, pediria desculpas e baixaria o volume do som.
MAS NÃO! Alguns "adoráveis" vizinhos - que imagino serem os tais dos "politicamente corretos" - foram correndo, na manhã de domingo, fazer veementes queixas à senhora Zeladora. E esta, muito prontamente - o que, diga-se de passagem, não acontece em relação a assuntos mais importantes - telefona imediatamente pra mim, que estou em Porto Alegre, para me "COMUNICAR" que "TODO O MUNDO" estava reclamando da "BATEÇÃO" que fizeram no apartamento durante "TODA A MADRUGADA"!
Sem saber o que tinha acontecido, encerrei o assunto com ela e tratei de ligar para o meu filho, que me relatou os fatos.
Como ultimamente "não ando muito boa" -- assim falava minha mãe -- depois foi a minha vez de telefonar para a "zelosa" Zeladora.
E, aí, SOLTEI OS CACHORROS!
Ora, façam-me o favor!!!
Já vi de tudo naquele Condomínio, e nunca reclamei de ninguém!
Aliás, até esta altura da vida, nunca reclamei de nada, nem de ninguém, nessas questões de condomínio, nem em Porto Alegre, muito menos em Capão!
Acho de última ficar reclamando!
Quer ter paz e sossego absoluto? Vá morar no meio do mato! Vida em condomínio envolve um sem número de situações desagradáveis, e isso é inevitável! São obras barulhentas, festas até altas horas, cães que latem sem parar, vizinhos que arrastam móveis, portas e janelas que batem, crianças que choram, que gritam, que berram, etc, etc, etc.
E eu... NÃO RECLAMO DE NADA! Afinal, tudo isso faz parte da vida!
E, se no passado, acabei relevando algumas coisas só para não me incomodar, agora que passei dos 50, especialmente quanto a assuntos de condomínio, vou avisar o seguinte:
- Tô dispensando a reclamação!
- Cobrem a multa prevista na Convenção!
E isso é pra vocês, seus CHATOS DE PLANTÃO!

Da série "Passei dos 50", por Deborah Johansen.

quinta-feira, fevereiro 2

DEPRESSÃO - O "Grande Cansaço"


Olha, vou te dizer uma coisa: eu até que luto bravamente. Não me entrego com facilidade.
Sou do signo de Capricórnio, que tem como símbolo a "cabra que sobe a montanha devagar... e sempre".
Mas, na escalada da vida, há momentos em que se atravessa no meu caminho o "Grande Cansaço
Ele é mais forte do que eu, e geralmente me abate. Agora mesmo, acabou de me jogar no chão!
E não é do "cansaço físico" que estou falando. Antes fosse! É daquele outro tipo... difícil de traduzir em palavras.

E, aí, você me pergunta: "- Mas, afinal, que está te faltando?"
E eu respondo... "- NADA!" "- TUDO!" "- NÃO SEI!"
Só sei que sinto um vazio, uma sensação ruim, um "sei lá o quê, entende?"

 E, então, não compreendo mais nada. Nada do que penso, é realmente. O bom, mesmo, é deixar de pensar por um tempo, para o prejuízo ser menor.

E também não quero fazer absolutamente NADA! Só tenho vontade de ficar quieta, parada... e esperar a coisa melhorar. Ficar ali, naquele exato ponto da montanha, sem dar mais um passo sequer. Baixar a cabeça, e olhar fixamente para o chão, tentando não despencar.
Além de não pensar, não quero falar, nem mesmo me mexer. Quero apenas chorar. E também dormir. Muito! Quem sabe quando acordar, a coisa tenha passado. É, tomara que tenha passado...
Enquanto não passa, não quero papo, não quero música, não quero filme, não quero nem mesmo os livros!

Já passei dos 50, e conheço muito bem o "Grande Cansaço". É um "velho conhecido" que tem me visitado cada vez com mais frequência. Ele nem precisa de convite. Vem quando quer. E quando menos espero.
Às vezes, finjo que não estou. Mas o danado não desiste, e fica batendo à minha porta, insistentemente.
E aí, eu abro! Ele entra, faz o que bem quer, e depois vai embora... satisfeito.
E se durante uma dessas "visitas" você resolver se aproximar, não espere muito de mim.
Dê-me todos os descontos da ocasião. Ou melhor : " - Volte amanhã!"
"Fechada por motivo de FORÇA MAIOR."

Mas, se ainda assim você vier, por sua própria conta e risco, chegue com cuidado,
e bem devagarinho...
NÃO DEPRESSA.

NÃO DÊ PRESSA.

É DEPRESSÃO.


Da série "Passei dos 50", por Deborah Johansen.