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quarta-feira, fevereiro 8
FAR WEST ou Faroeste
Minha mãe adorava ler. Aprendi a gostar da leitura imitando ela e o meu pai, pois ambos tinham esse hábito. Os gêneros preferidos de cada um eram bem diferentes. Meu pai fazia suas incursões na filosofia, religião e esoterismo. Já minha mãe gostava de Agatha Christie e seus assassinatos misteriosos. Ela leu a obra completa da "Rainha do Crime", como também era chamada a escritora. E quase sempre adivinhava o criminoso antes mesmo de chegar ao final do livro.
Ela também apreciava romances, tanto os mais elaborados, como os da Janet Dailey e Barbara Cartland, quanto esses vendidos em banca de revista, do tipo Sabrina, Bianca e Júlia.
Outra grande paixão da minha mãe, pelo menos enquanto eu era criança, foram aqueles livrinhos de bolso de Bang-Bang, Far West ou Faroeste, como você preferir. Ela chegou a ter uma coleção deles ocupando praticamente toda a estante da sala lá de casa.
Eu achava muito estranho ela gostar desse gênero literário. Não era o que as mães das minhas amigas liam. Cheguei a sentir um pouco de vergonha dela por causa disso, coisa bem típica das crianças que, em certas idades, ficam observando e julgando seus pais por critérios que só elas entendem.
Minha mãe, literalmente, "viajava" com sua leitura, transportando-se para os desertos do Oeste Americano, onde batalhas sangrentas eram travadas pela posse das terras, tendo os colonizadores brancos e suas armas de fogo de um lado, e os índios com seus arcos e flechas do outro, tudo isso num contexto histórico em que a "honra" era mais importante do que as "leis".
Puxa, acabei de lembrar que nos anos 60 a calça jeans era chamada de "FAR-WEST". Isso porque em 1956 a Alpargatas lançou uma calça com esse nome, feita com um tecido azulão grosso, o BRIM CORINGA. Era o "jeans" brasileiro que existiu, aqui, muito antes do americano da marca LEVI'S. Nos anos 50, o uso da calça de brim era uma exclusividade dos homens. As mulheres só começaram a usá-la nos anos 60. É o que li na Internet.
Bem, mas voltando ao tiroteio.
Por que será que minha mãe gostava tanto das histórias de Faroeste?
Não cheguei a perguntar isso a ela.
Agora, não tenho mais como saber.
Eu já passei dos 50, e nunca li um livro desses.
Qualquer dia, vou fazer isso!
Quem sabe, assim, eu consiga descobrir esse "mistério" da Dona Leila, uma mulher que lia muito, mas falava tão pouco...
Da série "Passei dos 50", por Deborah Johansen.