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terça-feira, janeiro 24

Pais S-E-P-A-R-A-D-O-S // A-M-O-R dividido


Quem é filho/a de pais separados é expert numa coisa: amor dividido.
Eu sou, ou fui - não sei como digo isso, uma vez que "eles" já se foram desse mundo - filha de pais separados.
Por isso, entendo bem da matéria,
Quando o casal se separa, a dor maior sempre é a dos filhos.
Só não concorda comigo quem não provou desse fel.
Para os filhos, a pior parte da separação:
-ou ficam longe do pai, que eles amam;
-ou ficam longe da mãe, que eles amam.
Claro que assim foi pra mim, que já passei dos 50, pois hoje em dia tem a tal da "guarda compartilhada", sistema estabelecido pelos próprios pais - ou pela lei - em que a "criança" é dividida em dois: uma metade fica com a mãe, a outra com o pai.
No meu tempo, geralmente os filhos ficavam com a mãe, e o pai era então, literalmente, "separado".
Nem na nossa casa ele pisava mais.
Ou porque não queria, ou porque não podia.
Havia exceções, mas via de regra, a regra era clara:
o pai não saía do carro, e a visita dava-se "dentro" dele, para curiosidade dos vizinhos, e imensa vergonha dos filhos.
Sim, porque naquela época era uma "vergonha" ser filho/a de pais separados.
Era como ter um título protestado no cartório, só que a dívida nem era sua!
E aqueles amiguinhos sortudos, cujos pais viviam em paz e amor, olhavam pra gente com um misto de curiosidade e discriminação, como se fôssemos de outro planeta.
Meus pais "terminaram de se separar" quando eu tinha 17 anos.
Mas muito tempo antes, a coisa já vinha mal, e a cada dia degringolava mais. Meu pai saía de casa, para depois voltar, e sair novamente.
Desde os meus 7 anos, passei a viver um turbilhão de emoções em razão do "início do fim" do casamento deles: tristeza, raiva, vergonha, insegurança, e medo.
Lembro dos meus dias de infância com a seguinte estatística mensal:
- 2 dias de "paz e amor" (afinal de contas, eles tiveram 5 filhos depois de mim);
- 21 dias de um silêncio tão denso que podia ser cortado com faca;
- e 7 dias de brigas e discussões, tendo como resultado final a mãe "chorando na frente do fogão".
Isso para os meses de 30 dias.
Nos de 31, acrescente um dia de silêncio.
No de 28, desconte os 2 de "paz e amor".
Não sei se as crianças de hoje sentem a separação dos pais como antigamente.
Elas parecem tão mais "descoladas"!
Mas... será que são mesmo?
Ou continuam disfarçando bem?
Para mim, a dor que elas sentem é exatamente a mesma.
Sem falar daqueles pais separados que têm uma nova união, e novos filhos dessa nova união.
Felizmente, desse vinagre eu não bebi.
Mesmo antes da efetiva separação dos meus pais, eu já sentia, há muito tempo, aquele "cheiro de separação" no ar.
E aquilo me angustiava
diaapósdia,
dia após dia,
dia ... após ... dia.
Para os filhos - de hoje, ontem e sempre - pai e mãe foram feitos "um para o outro", e não "para separar".
"O que Deus uniu - com o nascimento dos filhos - não o separe o homem!"
Mas, por favor, não me entendam mal!
Não estou aqui, de modo algum, a defender a manutenção de um casamento falido a qualquer custo.
Afinal, é direito de cada um buscar a sua felicidade.
Eu não gostaria de ver os meus filhos, no futuro, presos a um casamento infeliz, nem mesmo em razão dos meus futuros netos.
Mil vezes melhor - quando o amor acaba - é separar e tentar manter o melhor nível possível de convivência.
Quem sabe, até, uma boa amizade.
Isso atenua, em muito, a dor dos filhos.
Infelizmente, desse mel eu não provei.
Eu só estou, aqui, a lamentar a dura realidade dos pais s-e-p-a-r-a-d-o-s.
Aquilo que não estava nos planos na hora do "sim", mas que, às vezes, acaba acontecendo.
Eu só estou, aqui, a lamentar a realidade dolorosa dos filhos, e o seu a-m-o-r dividido.
Eu estou só, aqui, a chorar por mim mais uma vez...

Da série "Passei dos 50", por Deborah Johansen.