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domingo, janeiro 15
Vermelho - Paixão e Sangue
Minha mãe só usava batom e esmalte vermelho.
E eu herdei dela essa gosto.
Para mim, o vermelho é uma cor chique, clássica, feminina, sensual, especialmente quando usada em pequenas doses.
É bem curiosa essa questão da cor.
O vermelho sugere "paixão", geralmente representada por rosas, maçãs, morangos, almofadas, lingerie, e outros símbolos que não lembro agora.
Minha mãe não costumava usar roupas vermelhas.
Como símbolo da "paixão" que um dia ela sentira, ficaram esses pequenos detalhes - batom e esmalte - vistos somente por quem dela se aproximasse.
Mas o legal é que o "vermelho" ainda estava lá.
Aos vinte um anos, minha mãe trocou um noivado - com enxoval pronto e casamento marcado - por uma louca paixão.
Mas o destino, esse danado, volta e meia faz das suas.
A paixão passou,
o amor não suportou,
e o que Deus um dia uniu,
a história separou.
Mas minha mãe nunca deixou de usar batom e esmalte vermelho.
Na Wikipédia, encontrei o seguinte:
"A palavra vermelho tem sua origem no latim 'vermillus' que significa 'pequeno verme', remetendo-se à cochonilha, inseto do qual é extraído o corante carmim utilizado em tintas, cosméticos e como aditivo alimentar. ...O vermelho é associado com a cor do sangue.."
Achei isso bem interessante.
Minha mãe sofreu muito nessa vida.
Perdeu duas filhas, ainda pequenas,
separou-se do meu pai,
e nunca mais se casou.
Agora, que passei dos 50, desconfio que ela ainda o amava.
Um dia, minha mãe cansou, literalmente "jogou a toalha".
Mas ainda se arrastou, por algum tempo, até que o "vermillus" -
- vou chamar assim esse "pequeno verme" do câncer -
a abateu, impiedoso.
E foi naquela noite terrível, na cama do hospital, que um detalhe me marcou para sempre:
aquele filete de sangue vermelho escuro,
que escorreu de uma boca já sem vida,
e sem qualquer resquício de batom.
Da série "Passei dos 50", por Deborah Johansen.